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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Remeber why you came here



Refletia sobre todos os mistérios da vida e de todas as coisas, e tentava encontrar uma linguagem universal, tal como ansiavam os poetas e filósofos de outrora.
Se Baudelaire me ouvisse diria da "linguagem da flor e da matéria sem voz".
Me encontrei no ponto em que a realidade não podia mais ser alcançada por minhas mãos, então fundava o mistério em minha mente, percebia delineações do que seria o mistério, mas sem nenhuma perspectiva de sua natureza, composição, origem, finalidade...
O mistério, o irrevelado, o Absoluto. Encontrava referências inúmeras e minha mente ansiava pelo controle de minha própria realidade como um corcel que reluta em ser domado por qualquer que fosse o cavaleiro.
É daí que a iluminação ocorreu: não haveria mistério que pudesse ser desvendado - para isso era necessário estar dentro do próprio mistério, ser o próprio mistério e daí, insondável - era um mistério a própria realidade e não havia sentido em buscar sentido... Tal me parecia o paradoxo que criava que as vezes a mente e sua estrutura entravam em colapso e precisava reiniciar todo o sistema de realidade para não me desfazer.
Senti algumas vezes que a realidade fosse colapsar e só depois percebi que era minha mente que entrava em estado abstrato, plasmático, sem forma nem substância e portanto não se permitia mais ser o veículo da percepção de um ser abstrato e senciente.
"Quando eu vim pra esse mundo eu mostrei minha cara, cantei o meu canto e fiquei por cá..."
E é isso.
Ninguém sabe o que diz, nem consegue ou se sente capaz de inferir sobre a natureza das coisas, por abstrata, por estar no centro do absoluto, onde mora o insondável. Só em sonho, pelo símbolo que não compreendo posso tocar ou estar envolto no mistério.
À mim caberia apenas desvendar um único mistério: quem sou e como aplico o que sou, como deixo ao próximo eu (que é você que me lê) uma mensagem útil à este entendimento? Pois que possa retomar essa investigação absurda quando houver mais materialmente construído essa estrutura.
"Eu encontrei a rosa e me tornei roseira e só quando eu vim pra esse mundo eu mostrei minha cara, cantei o meu canto e fiquei por cá..."
E um novo ciclo.
"Maravilha é o Sol se pondo, é Luanda e basta, beleza sem igual".
Passa na TV de minha mente e meu corpo teme, minha mente gela quando processa a informação de que eu possa estar assistindo de longe enquanto persisto no caminho mais longo, o mais sujeito à espinhos e revivo e revivo o ciclo como num inferno pessoal. Porque meus fantasmas não estão do lado de fora, mas dentro.
Enquanto não tiver provado de todos os espinhos e vivido todas as dores do mundo com intacto amor por mim (que sou todas as coisas que se projetam para fora de mim) minha consciência não aprenderá a desviar da experiência que não me apetece?
"Pois se eu tivesse minha imagem controlada, só uma foto e mais nada de mim eu permitiria nela estaria... meu rosto de meia idade, olhando muito a vontade como quem está meditando... só quem demorasse olhando, veria a coruja muda que ri de mim quando estuda tudo que eu disse cantando".
A expressão única do ser, correspondente ao que a mente processa, e de outra forma igualmente impecável para a consciência.
"Venha mamãe, venha me firmar pra eu entrar no Juremá.. eu pego o fumo e o meu cachimbo pra me limpar, pra eu entrar...".

E toda mensagem se processa em minha consciência e me deixa espiar o lado de dentro do mistério.

[Poeta Eterno