Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
[Cecilia Meireles]
Deixando ir um desejo.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Só à mim (Ousar não pertencer).
[Poeta Eterno]
Nascera eu, antes de ser eu, teu.
A presença insubordinada à minha
vontade,
Os laços que sentia atando à um
destino de copas,
"Só solidão restituirá o
eu".
Nem com olhar de tédio me
recebera,
Sequer me vira, sequer me
compreendera,
O Eu nesse estado em que eu não
era,
"Só solidão
reconstruirá".
Persistente, eu era
E mais sendo eu, mais eu era só e
teu.
Este não pertencer-me, sem
presença,
Não ser eu de mim mesmo era
lancinante,
Não ser se não houvesse copas,
Faísca lúgubre roubando o Sol.
Só solidão restará.
Na angustia em que nascera, sem
presença,
Sabia, que de todo você não era,
E se fosse, já me tornara mal.
Ousaria me roubar de ti
Para nunca mais pertencer
Se não à mim?
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