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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Clarice Lispector - Interpretação

"Até cortar os próprios defeitos pode ser periogoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edíficio inteiro" C. Lispector.

Pois bem, Lispector, entendo que sejamos como os edifícios, arraigados em nossa decisão de não mover e que a retirada disto que nos torna Umanos (sem H para condizer mais com nossa real natureza de humanos incompletos), disto que nos sustenta em pé, parados, possa nos corromper, ou apenas romper de forma tão imensa e completa que não houvesse palavra maior que completamente à descrever a destruição de nossos eus tais quais os (des)conhecemos, mas, talvez ai coubesse um porém.

Parados em uma sala de ser, desconhecedores do verbo de passagem que poderia lhe dar nome, continuamos. Nosso edificio parado, sempre sustentado por vários defeitos ou por um que seja, mas o importante da frase é: queremos continuar sendo edificios inteiros parados enquanto a natureza muda as matizes de nosso entorno?

Um edificio que não muda é um edificio morto! Talvez o importante no processo de edificar-nos seja, exatamente, desedificarmos do lugar onde anteriormente ocupavamos. Talvez o importante seja aprender a desaprendrer, desistir das certezas, esquecer paradigmas. Por isso dizem: Bendito o que não sabe, mas a bemaventurança esta em saber que não se sabe.

Seria interessante rever o texto sobre liberdade e amor agora, "amor é o puleiro da gaivota. Tão necessário à sua própria liberdade e a liberdade tão necessária ao vôo...". De forma análoga, edificar-se deve ser um processo de retomada do passado enquanto se esta a viver o presente, e isso significaria a revisão de conceitos. Seria um processo dialético de tal forma que não nos permitiria esquecer de crescer enquanto mudamos, de des-edificar enquanto edificamos uma nova verdade num novo mundo, talvez além deste - não porque adiante no tempo, mas porque adiante em relação ao estado atual de ciencia do ente.

Diria, então, que cortar os próprios defeitos é perigoso para os acomodados e pra mim, os acomodados que se mudem - sob o risco de manterem-se edificios eternos...