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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um pertencer-me

Perguntam por que às vezes estou fora deste mundo, ou especulam, significando com isso a ausência de entendimento, não de meu mundo particular, pois que não se pode possuir mundos, mas dos vários mundos coletivos os quais não somos capazes de ver e pelos quais, inevitavelmente transitamos. São mundos obviamente transitórios, mas coletivos.

Diria Einstein que são mundos transitórios, factíveis, pois que pedaços. Heráclito diria que nunca seremos capazes de banhar-nos no mesmo rio, pois que as águas se modificam, passam em função de quando o tempo passa.

Eu diria que o tempo não é um lugar, mas um estado inpermanente e inpertencível, pois que quando se passasse a pertencê-lo deixaria de ser estado.

Com esta pequena inflexão do tempo quero dizer que não pertenço nem mesmo a mim, o tempo de ontem é que tinha a posse do eu de ontem, do momento inpertencível no qual estive "eu de ontem" e através do qual posso ser o eu deste segundo - que ao passar já levou outro eu. Quero dizer, então, que o tempo é o papel no qual imprimimos nosso eu a cada segundo?

Perguntam-me, mesmo assim, porque estou fora deste mundo, obrigando-me a dizer que este não está fora daquele e que na forçosa divisão dos dois, cada um, obrigatoriamente conterá um reflexo de mim, talvez sujeito à interpretação, por isso, variável.

Digo que não posso pertencer a este mundo, porque ele próprio não se pertence, esta em função de, em relação a um uno, incompreenssivelmente coletivo, e se coletivo, impertencível a qualquer das partes, enquanto estas permanecerem partes.

Poeta Eterno

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Atemporal

Dificil saber do tempo,
que passa sem percebermos...
As vezes o tempo assim é mais consciente,
menos racionalmente particionado,
medido em bitolas...

As vezes só ouso esquecer que não esqueço.
Poeta Eterno

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Clarice Lispector - Interpretação

"Até cortar os próprios defeitos pode ser periogoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edíficio inteiro" C. Lispector.

Pois bem, Lispector, entendo que sejamos como os edifícios, arraigados em nossa decisão de não mover e que a retirada disto que nos torna Umanos (sem H para condizer mais com nossa real natureza de humanos incompletos), disto que nos sustenta em pé, parados, possa nos corromper, ou apenas romper de forma tão imensa e completa que não houvesse palavra maior que completamente à descrever a destruição de nossos eus tais quais os (des)conhecemos, mas, talvez ai coubesse um porém.

Parados em uma sala de ser, desconhecedores do verbo de passagem que poderia lhe dar nome, continuamos. Nosso edificio parado, sempre sustentado por vários defeitos ou por um que seja, mas o importante da frase é: queremos continuar sendo edificios inteiros parados enquanto a natureza muda as matizes de nosso entorno?

Um edificio que não muda é um edificio morto! Talvez o importante no processo de edificar-nos seja, exatamente, desedificarmos do lugar onde anteriormente ocupavamos. Talvez o importante seja aprender a desaprendrer, desistir das certezas, esquecer paradigmas. Por isso dizem: Bendito o que não sabe, mas a bemaventurança esta em saber que não se sabe.

Seria interessante rever o texto sobre liberdade e amor agora, "amor é o puleiro da gaivota. Tão necessário à sua própria liberdade e a liberdade tão necessária ao vôo...". De forma análoga, edificar-se deve ser um processo de retomada do passado enquanto se esta a viver o presente, e isso significaria a revisão de conceitos. Seria um processo dialético de tal forma que não nos permitiria esquecer de crescer enquanto mudamos, de des-edificar enquanto edificamos uma nova verdade num novo mundo, talvez além deste - não porque adiante no tempo, mas porque adiante em relação ao estado atual de ciencia do ente.

Diria, então, que cortar os próprios defeitos é perigoso para os acomodados e pra mim, os acomodados que se mudem - sob o risco de manterem-se edificios eternos...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Avesso do Caos

Nós, os organizados, somos bem assim: separamos por cor as meias, as roupas por tipo; usamos marca-texto, postit; amarramos fitas vermelhas no dedo e na alma livre.

Temos sempre hora marcada!

Nunca esquecemos... a agenda, o celular, a carteira ou as chaves; conferimos todo o tempo os bolsos e bolsas e é assim que perdemos - nas chaves não esquecidas, nos celulares carregados, na parte que não nos esquecemos de grifar do texto, na manhã que acordou na hora, na cor vermelha que não era goiaba - pequeníssimos prazeres como o de não ter reserva no hotel e haver vaga; de ter esquecido a chave, mas ter alguém em casa esperando; o de não ter pedido, mas alguém ter adivinhado que um algo essencial precisava ser feito e na hora certa; a delicia do encontro inesperado...

Perdemos a oportunidade de comunicar-nos com a alma, as vezes até de viver... Perdemos o acaso, a festa surpresa, a oportunidade, o perder-se...

Se me ouvissem, os sábios diriam que é preciso haver um pouco de caos para que se faça o mínimo de organização, mas as vezes o caos é bem mais como um vício, não como os vícios que conhecemos, vício de querer o inesperado, de não rogar pelo correto, de abraçar o incerto, de desconstruir e construir ao avesso sempre.

Dos vícios e drogas, prefiro o caos.