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quarta-feira, 7 de março de 2012

Trecho de livro: Dostoievski

"Uma noite prodigiosa, uma dessas noites que talvez só vejamos quando somos novos (...) O céu estava tão fundo e tão claro que ao olhá-lo uma pessoa era forçosamente levada a perguntar-se se seria possível que debaixo de um céu daqueles pudessem viver criaturas más e tenebrosas. Questão esta que, para dizer a versade, só é costume levantar-se quando somos jovens, muito jovens mesmo, querido leitor. Prouvera a Deus que pudésseis reviver com frequência essa idade na vossa alma! Enquanto ia pensando assim em várias pessoas, é claro que acabava por recordar-me involuntariamente do panegírio que a mim próprio eu havia tecido, nesses tempos.
(...)Eu sou amigo de toda a cidade de São Petersburgo (...) Evidentemente que os outros não me conheciam; mas eu... eu os conheço. (...) Sim, posso dizer que uma vez cheguei quase a fazer uma amizade: foi com um homem já de idade (...) Tinha uma cara muito séria e pensativa, movia constantemente os maxilares, como se ruminasse qualquer coisa (...) ficamos quase a ponto de levar a mão ao chapéu, mas felizmente refletimos a tempo, deixamos cair as mãos e passamos um em frente do outro com visíveis sinais de mútua satisfação.
(...)
Disse já como durante três dias fui torturado por uma estranha inquietação, até que finalmente consegui descobrir a sua causa. Não me sentia bem na rua (não via este, nem tampouco aquele, nem aqueloutro, nem estoutro... "Por onde diabo andarão eles?"), e tambem não me sentia bem em casa. (...) Gastei inútilmente duas tardes investigando o que seria que me faltava entre as quatro paredes da minha casa. Porque me sentiria eu tão mal em casa?"
Aos interessados no trecho: é de Dostoievski, caso haja interesse, eu digo o nome do livro.