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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

http://www.prahoje.com.br/florbela/?p=247


Estrela Cadente
Traço de luz… lá vai!

Lá vai! Morreu.

Do nosso amor me lembra a suavidade…

Da estrela não ficou nada no céu

Do nosso sonho em ti nem a saudade!
Pra onde iria a ’strela? Flor fugida

Ao ramalhete atado no infinito…

Que ilusão seguiria entontecida

A linda estrela de fulgir bendito?…

Aonde iria, aonde iria a flor?

(Talvez, quem sabe?… ai quem soubesse, amor!)

Se tu o vires minha bendita estrela
Alguma noite… Deves conhecê-lo!Falo-te tanto nele!…

Pois ao vê-loDize-lhe assim: “Por que não pensas nela?”
Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916

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Sol Posto

Sol posto.

O sino ao longe dá Trindades

Nas ravinas do monte andam cantando

As cigarras dolentes…

E saudadesNos atalhos parecem dormitando…
É esta a hora em que a suave imagem

Do bem que já foi nosso nos tortura

O coração no peito, em que a paisagem

Nos faz chorar de dor e d’amargura…
É a hora também em que cantando

As andorinhas vão p’lo meio das ruas

Para os ninhos, contentes, chilreando…
Quem me dera também, amor, que fosse

Esta a hora de todas a mais doce

Em que eu unisse as minhas mãos às tuas!…
Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Amiga

Amiga

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Florbela Espanca

Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Imagem tema do layout

Talvez...

A esta hora branda d’amargura,
A esta hora triste em que o luar
Anda chorando, Ó minha desventura
Onde estás tu? Onde anda o teu olhar?

A noite é calma e triste… a murmurar
Anda o vento, de leve, na doçura
Ideal do aveludado ar
Onde estrelas palpitam… Noite escura

Dize-me onde ele está o meu amor,
Onde o vosso luar o vai beijar,
Onde as vossas estrelas co fulgor

Do seu brilho de fogo o vão cobrir!
Dize-me onde ele está!… Talvez a olhar
A mesma noite linda a refulgir…

Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916

retirado de: http://www.prahoje.com.br/florbela/

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Homenagem: Os Versos Que te Fiz

Os versos que te fiz

Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!